1. |
Aquela que Teima
02:10
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Aquela que teima (Anna Vis / Romulo Fróes)
Cava
Fundo
Rasga a pele sem pena
Queima inteira
Todo o ódio por dentro
Cobre
Essa casca pequena
Põe pra fora
Mostra o dedo do Meio
Já viu
Tudo quer destruir
A lei
Do amor
Sem lei
Ossos de cor azul
Carne
Dentes de uma caveira
Queira
Ser aquela que teima
Não, não queira
Uma morte serena
Partiu
Rumo a tua sentença
Besteira
Só mais uma fogueira
Ouça
Vai ter que decidir
Cair
Lenta
Mente
Diz que não vai mentir
Tente Imaginar a cena
Você
Bem no meio da praça
De bandeja
Tronco, pés e mãos
Tronco, pés e mãos
Tronco, pés e mãos
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2. |
Sem Vacilação 1
00:38
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Sem Vacilação 1 (Anna Vis / Mbé)
lembrava que ficava sentada por horas
eram gestos do devagar:
a abertura das bromélias
quem era ela?
sabe imitar a lentidão?
ficava algo na ponta dos dedos
ágil por cima dos joelhos
é difícil segurar
os olhos
fechados
se movem pelas bordas da cabeça
o movimento rondando
ela passou
você viu?
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3. |
Lá vou eu e nada é maior
02:07
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Lá vou eu e nada é maior (Anna Vis / Clima)
Lá vou eu no breu da Major
Tudo é meu e tudo é meu
Lá vou eu e nada é maior
Do que eu, do que eu
Só me monto e vou pro quintal
Pra geral, pra geral
Saio e pego em frente ao sinal
Tô na Major, tô na General
Esse eu conheço:
Um passo em falso
Um passo em falso eu morro ali
Conheço tão bem
Um passo em falso eu morro ali
E quando ele vem
Eu monto um falso álibi
Mas quando não vem
Eu calço um par de botas
Roxas e caço um
Lá vou eu no breu da Major
Tudo é meu e tudo é meu
Lá vou eu e nada é maior
Do que eu, do que eu
Só me monto e vou pro quintal
Pra geral, pra geral
Saio e pego em frente ao sinal
Tô na Major, tô na General
Risco o asfalto e vou
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4. |
Sem Vacilação 2
00:46
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Sem Vacilação 2 (Anna Vis/ Mbé)
primeiro passo é tomar conta do espaço
do dentro, por dentro
não vinha nada
ensaiava o gesto e ele despedaçava
as paredes refletiam
minha dureza
amplificando aos quadrados
m’artificiando
eu concreta e fora de mim
é grande
extensão tão longa
às vezes num bumerangue
outras, flecha no ar
virando sem alvos
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5. |
Água com gás
03:15
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Água com gás (Alice Coutinho/ Anna Vis)
Um beijo tu dará
Um beijo de delicadeza
Um seio tu dará
Um seio da natureza
Um verbo tu dirá
Um verbo de certa beleza
Um talvez um
Amor um
Um prazer um
Um fim feliz
Um fim
Um amor um
Um prazer um
Um fim
Com choro
Mas feliz o fim
Um beijo de confissão
Pergunto se sou sã, sou
Um blues do Djavan
Será que é o tal, tão
Escolhe um novo amor
E uma água com gás
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6. |
De cara
03:02
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De cara (Anna Vis/ Clima)
O Cara tá
De chapéu
Panamá
Sem anel
De colar
A cara tapa ele dá
Ele dá
O cara vem
Como quem
Quer chefar
Sem entregar
De cara eu fico por lá
Devagar
O cara fez
Que não viu
De perfil
Bem pinéu
Bipolar
Tapou a cara e seguiu
Preferiu
O cara riu
Só fingiu
E fugiu
Pera lá
Tem cara que não sabe chegar
Que é que há?
Cara que passa cheio de graça
Que passa se acha lindo
Na praia de Panamá
Cara pipoca nem para cara
Não fala me encara rindo
Com a boca de quem não tá
Para
Nada que passa que venha vindo
Que olhe na sua cara
Com cara de quem será
Porra
Cara repara que tá na cara
Prepara que eu tô na área
No páreo pra disparar
Pá! Pá! Pá!
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7. |
Sem Vacilação 3
00:52
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Sem Vacilação 3 (Anna Vis/ Mbé)
mão no chão
unha de terra
manha de fera
grave por baixo
dezessete metros de onda
reverberam fundo
ao sul da floresta
era ninguém
só vento
vento-alguém?
era bruto
sem leveza de brisa
rápido, era ventania
espadas abrindo fendas
cheiro de chuvarada
os estrondos agarram meu corpo como manada
minha forma
muda
muta
começa pela nuca
e cai pro tórax
escorrega voando nos braços
meus cabelos vão(s) sozinhos
o(n)deiam
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8. |
Mil Noites
03:21
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Mil Noites (Anna Vis / Clima)
Eu durmo tão mal porque
Eu quero uma noite com você
Só quero uma noite com você
Depois dessa noite a gente vê
Pulsa na veia
Gosto de damasco e mel
A noite inteira
Você eu
Mil noites
Eu digo e você cadê?
Eu quero uma noite com você
Só quero uma noite com você
Depois dessa noite a gente vê
Pousa na areia
Meu tapete voador
Essa noite fria queima
No deserto do amor
Mil noites
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9. |
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Sem Vacilação 4 (Anna Vis)
quem era?
eu não.
outra. eu vi.
Tribunal da Rosa (Morris/ Anna Vis)
Tribunal vai começar
Convocar no breu mais de um milhão
Vai posar de herói, gritar
Tribunal vai gargalhar rá rá
Anda
Marcha
Não tem volta
Tribunal vai confundir
Vai vingar vai perdoar voltar
De joelhos condenar
Tribunal vai vomitar matar
A primeira tombou
Uma rosa nasceu
Eu vi
Tribunal vai derreter
Vai vazar no rádio e na TV
Vai fingir que vai pirar
Tribunal quimera vai queimar
Corre
Vira
Tribunal vai decidir
Vai comemorar mais uma vez
A segunda tombou
Eu Vi
Era Rosa
Era Rosa
Era Rosa
Era Rosa
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10. |
Sem Vacilação 5
01:33
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Sem Vacilação 5 (Anna Vis / Mbé)
- nossa língua parece não ter pronome pra…
Ela passou.
você viu?
lembrava do cheiro de tarde
quando os pássaros avisavam pra levantar
ensaiava
e saía
dando voltas aqui mesmo
esse era o lugar dela
uma vez,
me contou que vinha um
algo vivo
sussurrar nas beiradas do ouvido
ao pé do
lembra?
contava pra qualquer um
algo vivo
rondando
esparramando espaços com espadas
era o estrondo
às vezes me esqueço
algo vivo
circula
e remonta
meu corpo
ela: isso
vinha vindo
sssssssss
sobrando
ssssssssss salta
sssssssssssss
saí sozinha
sssssssss
saindo
ssssssssss
ela: isso
quem era?
saindo assim:
ua ua ua ua
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11. |
Eleito Leitor
03:33
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Eleito Leitor (Anna Vis/ Marcelo Cabral)
Se
estamos nós
íntimos sozinhos
te abrindo exponho
cartas na nossa cara
cansada
à
cara oculta
Tudo que não escolhi
saindo pelo seu corpo
Lábio Léxico
Lendo Lento
No limite
nós
nos espera a morte
lhe amarro a língua
pela lateral
da
minha
Tudo que não escolhi
saindo pelo seu corpo
Lábio Sexo
Lendo Lento
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12. |
Sem Vacilação 6
02:10
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Sem Vacilação 6 (Anna Vis/ Mbé)
como foi que eu contei?
disse algo sobre
algo vivo
sob a cabeça
quem?
um movimento
algo como…
um pouco de…
ela fazia assim:
enquanto lembrava
ela sim conheceu
eu não conheci
algo como
algo vivo
vindo vento
indo vulto
Você viu?
sssssssssssim
Contava em gestos
não entendia
e é bem por isso que me esqueço
algo só com os olhos
vivia e se movimentava
a cabeça inclinada
e muita fumaça
algo vivo entre os dedos
no espaço entre
o espaço vazio é espaço dela
qualquer
nas entranhas das madeiras
estalava imprevisível
trotando feito cavala
às vezes cinza
podia voar
pelando
afundava a terra
quando fumaça, já era outra
Nessa horas, os óleos
brilhando, laranjas
chispavam
algo vivo
craquelo o corpo
algo vivo queimando meu tronco
impulso do oxigênio
consumida pelo fogo
desde dentro
em torno do
em torno do
em torno do
posso procurar dentro disso
ou pelas costas dessa rua
ela apagava quando vinha pra cidade
atropelada
algo morto por todo lado
tinha disso de sair na alvorada
procurando pedras
Quando vinha, não ensaiava
lembro de ficar entre vidraças
algo morto eu conhecia
desde novinha
coisa de corre
e cór na boca
ou no estômago
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13. |
Vitalina meia vida
02:36
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Vitalina meia Vida (Anna Vis/ Juliana Perdigão)
Veio do porto
com o marido já morto
chegou direto no luto
vestida toda de preto
tirou as madeixas postiças
enrolou seu cabelo primeiro
muda labuta
só de sozinha
ele disse que vinha, só
disse que vinha
Ele tinha duas vidas
Escolheu uma pra matar
ela não sabia
ela não chegou a tempo de enterrar
cuida da casa do cara
tapa os buracos que dá
muda labuta
só de sozinha
ele disse que vinha, só
disse que vinha
Cai um teco do teto de cimento
põe a mão no corte e os olhos ao mesmo tempo
em cima não tem ninguém
mais passos à toa
no chão o corte ecoa
divide a vida que tem
muda labuta
só de sozinha
ele disse que vinha, só
disse que vinha
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14. |
Estrangeira
03:07
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Estrangeira (Anna Vis/ Romulo Fróes)
Vai
Saia, saia!
Vai
Caia fora!
Vai sem pena
Vai sem glória
Sim..
Eu já sei esse dia não vai
Melhorar .. Melhorar (desista mesmo)
Não vou me enganar mais
Olhar a beleza e não
Encontrar
Seu olhar
Não
Nem que essa cara fechada retome aquele azul
Mesmo azul
Brilhava nos olhos
Antes do céu fechar
Na manhã
Desse amor
Vai
Saia, saia!
Vai
Caia fora!
Vai sem pena
Vai sem glória
Não vou mais aturar
Essa falta de ar
Nem morder a língua
Que não é a minha
Já
Faz muito tempo eu sou
Estrangeira
Por inteira
Na minha trincheira
Não vou ser mais refém
De você
De ninguém
Ah
Nem que uma nova estrela me queira pra iluminar
Não vai dar
Não vou me apagar não
Eu vi a escuridão
Escolhi o sol
Vai
Saia, saia!
Vai
Caia fora!
Vai sem pena
Vai sem glória
Não vou mais aturar
Essa falta de ar
Nem morder a língua
Que não é a minha
|
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15. |
Sem Vacilação 7
01:14
|
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Sem Vacilação 7 (Anna Vis/ Mbé)
Dizia que era importante sair
antes do sol
pra ver as madeiras brilharem
Nesses dias, vestia o fogo
e caminhava por cima do vale
era um pulso ritmado
um talactac
estralando por
de dentro
via a força que tinha por
o vento
ssssssssss
quebrando o corpo todo
poderia imitar a
talvez se pudesse
Algo vivo por baixo da terra
se movimenta devagar
quente
desde o centro
e mmmmmã
meu medo era
mmmmmmmmã
Lembra?
mar de fogo
a coluna dela vibrava
quebrando o corpo todo
bem no meio
a coluna
pegando fogo
trocava de temperatura queimando o osso
eu fiquei de longe
atordoada
|
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16. |
Calada
03:56
|
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Calada (Clima/Anna Vis)
Da
crisálida
de chumbo
nascerá
lá
do fundo
mais
um mundo
sem
você
Vi como um bicho vê
como é
sem vacilação
Eu vi
não posso explicar não posso mais
calada
paro por aqui
Vou no sol
tudo é
mundo é grande de se perder
Esse céu azul
esse nada que me faz tão bem
|
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17. |
Sem Vacilação 8
00:36
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Sem Vacilação 8 (Anna Vis/ Mbé)
via brilhante
subindo
seca
queimando troncos
subindo
seca
os olhos acesos
via brilhante, abertos
subindo
era ela pela calçada?
quem era?
Algo vivo na estrada
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18. |
Espantalho sem espelho
02:33
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|||
Espantalho sem espelho (Anna Vis/ Romulo Fróes)
Deita deita mais um
Pá pá pá tum
desce o dedo e pá pum
Pá pá pá
Não mira
ê
Dispara
ê
Primeira
ê
Na cara
ê ê êi … (interjeição chamando a atenção do ouvinte)
Tum
O som da morte comum
Pá pá pá
Tum
Tomba o homem nenhum
Pá pá pá
Bandeira ê
Queimada
Madrugada
Sem estrela
Não tem fome nem
Nem gosto ruim tem
Nem corpo, nem casa, nem povo, nem pedra do rim tem
Pra onde levam tanta dor?
Como se nunca tivessem morrido
Nem feito ninguém chorar
Lava o chão vermelho ninguém sabe o nome
Espantalho sem espelho
É só mais um
Deita, deita mais um
Pá, pá, pá Tum
Desce o dedo e pá pum
pá, pá, pá
|
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19. |
Sem Vacilação 9
03:34
|
|||
Sem Vacilação 9 (Anna Vis/ Mbé)
Confirmar o círculo com os pés.
Pensava com os pés
um movimento de quem cava
outro de quem abre
o buraco
no chão é de terra
e volta por detrás
algo entre as coxas
e a lombar.
algo entre a garganta e o nariz.
pensava com os pés
e os joelhos ajudavam
um apoio mole-duro
vinha com força-delicadeza
"Sempre que penso em você
danço até a ressurreição do tempo"
enrolada no chão
circulava
girava girava
mordia a
ficava em um pé só
e descia inteira
Por cima das coxas a impressão da boca
Depois, os dentes caíram todos
mas os pés continuavam
circulando
ainda que trincada
tr
tr
tr
tr
Descendo inteira
tr
tr
tr
tr
Depois,
parecia que virava rocha
preenchendo bem os espaços
entre
como se tivesse sedimentado.
Depois era o sal.
tr
tr
rangia mais, onde
antes
o que?
Algo vivo possuía toda e ocupava
como uma invenção
ela disse
Trava mais tarde
só depois.
Agora não parava de acontecer
voltando sem ter ido
tramando
tr
tr
tr
Descia num sem fim do mundo
vinha voltando sem ter
Agora não.
De dentro vem vindo
uma força lenta
e por vezes
erupciona
densa a terra
quando se encontra com
algo vivo
se movimentando dentro
negro e vermelho
entre tr e mmm
tem barulho de mar
Ela chegava a corar na altura do pescoço
Me contou muitas vezes
dos teares por de baixo
veios de fogo e seiva
fluxo firme
Com quem falava nessas voltas? Quando saía pra caminhar
Dando voltas
e as casas no centro
era paixão dela ser outro
Disse:
"tudo o que existe
respira e exala
um finíssimo resplendor de energia"
Como é?
Não parava de perder a direção
Algo se movimentava sem seu comando
Algo vivo em cima da coxa
debaixo da terra
sem vacilação
apontava o movimento
|
||||
20. |
Um moribundo
02:37
|
|||
Um Moribundo (Anna Vis / Romulo Fróes)
Sem saber se era de verdade eu quis
Sem poder querer saber fazer eu fiz
Quem me disse isso já fugiu
Um silêncio que ninguém ouviu
Olhou nos olhos que se viu
Mentiu na cara que cuspiu
Pus um céu em cima da cabeça e fui
Quis furar um olho mas não este aqui
Quis virar o corpo sem mexer
Prender nos dentes sem comer
Criar um mundo sem você
Sem paz, amor e sem buquê
Arrancar o mato sem chegar ao fim
Conservar o pelo verde do capim
Não ser bicho, planta, nem mulher
Ser aquilo que ninguém mais quer
Fingir o que eu não quero ser
Perder a chance de dizer
Uma palavra
Debaixo da pele
Da lâmina fria
Escapa da minha tv
Não dá pra ver
Mas vai morrer
Sem beleza
É você
Mais de cem mil
Quase um milhão
Sem parar
Uma nação
De nenhum lugar
Mortos no chão
Mesmo que não
São você
Um moribundo
O vermelho seco da palavra Deus
O amarelo ouro da palavra pus
O azul no fogo do pavio
Sorriu pra quem se distraiu
Jogou teu corpo nesse rio
Sentiu na carne o arrepio
Bumbo, caixa, prato, frigideira e bis
Osso, vidro, sol, porta-bandeira e giz
Qualquer coisa para ser feliz
Bombom de prata no nariz
Cortar o mal pela raiz
A boca torta que não diz
Uma palavra
Debaixo da pele
Da lâmina fria
Escapa da minha tv
Não dá pra ver
Mas vai morrer
Sem beleza
É você
Mais de cem mil
Quase um milhão
Sem parar
Uma nação
De nenhum lugar
Um moribundo
|
Anna Vis São Paulo, Brazil
Compositora, cantora, violonista, poeta, astróloga e engenheira de som, Anna Vis publicou seu primeiro livro de poesias em Abril de 2019 pela Editora Primata chamado “Máquina Orgânica”. Iniciando sua carreira profissional como musicista em 2019, vem produzindo o disco “Como um bicho vê" Atua como improvisadora vocal no circuito de música experimental em São Paulo. ... more
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